Caixa em imbuia, restauração.

Tenho uma amiga que faz belíssimos arranjos para natal, festas e outras ocasiões. Uma de suas clientes pediu se ela não conhecia alguém para reformar ou restaurar uma caixa de faqueiro e minha amiga lembrou-se de mim. Então ela me apareceu com esse antigo faqueiro, uma caixa em imbuia para restaurar ou reformar da melhor forma que fosse possível e, detalhe, em uma semana. Restauração pode proporcionar surpresas e levar tempo, pois inúmeros contratempos podem acontecer, já que a gente não tem ideia de como as coisas foram feitas, que materiais foram usados, etc...

Depois do exposto, vemos que restauração e prazo curto muitas vezes não funcionam juntos, pode ser uma simples raspagem da tinta ou verniz seguido de novo acabamento, como pode ser necessário fazer reparos maiores, reconstrução de algumas partes, busca por materiais que nem sempre são encontrados facilmente, etc. Mas como estava com tempo e também em consideração a essa amiga, decidi aceitar.

Não tenho fotos do antes nem do durante da reforma, mas a caixa estava basicamente com uma tinta preta, emborrachada e áspera por fora, a tampa estava empenada e a fechadura não funcionava. A fechadura foi simplesmente trocada por um modelo idêntico.

Inicialmente tentei lixar a caixa, mas não foi possível lixar já que a tinta empapava a lixa, foi preciso retirar raspando com uma raspilha manual e plainas. Durante a raspagem da tinta a madeira revelou ser de uma grande beleza, uma imbuia bem escura com alguns rajados em marrom claro amarelado.

O tampo da caixa era um compensado com um trabalho de marchetaria sobre ele. Durante a raspagem as lâminas de imbuia se soltaram em algumas partes, mas mesmo assim queria manter o tampo original, fazendo pequenos enxertos, etc. Esse compensado era simplesmente colado ao tampo mostrando, na sua borda, o miolo do compensado e, para esconder esse miolo, fiz um pequeno recorte para inserir uma borda de imbuia, em madeira mesmo. Ao fazer esse recorte descobri que o compensado estava se soltando, descolando suas lâminas internas: não era mais possível manter o tampo original.

Então parti para a confecção de um novo tampo com lâminas de imbuia, refazendo a marchetaria e inserindo nas bordas dele uma pequena tira em madeira, do mesmo tom da caixa. Infelizmente não encontrei lâminas no mesmo tom do tampo original. A imbuia é uma madeira que varia muito de tom, essas lâminas que usei eram bem mais claras que as originais. Por falta de tempo, o tampo novo ficou com um tom mais claro que o original.

De acabamento foram 4 demãos de óleo de tungue polimerizado, seguidas por fim de duas finas camadas de cera a base de carnaúba. O óleo de tungue, desde que seja 100% puro é um produto seguro para ser usado em utensílios que irão entrar em contato com alimento.


A caixa pronta.

As lâminas do tampo parecem ser em tons diferentes uma da outra, duas escuras e duas claras, mas  é apenas um efeito da  luz incidindo sobre elas de um ângulo lateral. Isso ocorre pois na hora de fazer a marchetaria, para os veios das madeiras se encaixarem é preciso virar duas lâminas ao contrário, assim suas fibras correm em ângulo diferente e refletem a luz de forma diferente. Sob outros ângulos não é possível ver essa diferença.

Aqui novamente a diferença por conta da luz lateral.

Detalhe do tampo com as bordas em madeira, escondendo o topo do compensado e dando resistência  à peça.